2006-06-12

arquetipologia da arte de ser português


EMITTE LVCEM TVAM ET VERITATEM TVAM
Inscrição barroca


Esta análise à alma do lusitano é apenas um contributo para tentar perceber os meandros que cercam de nevoeiro, ou de aura, segundo a perspectiva, a nação lusitana e as idades que ela atravessa ao longo da espiral histórica e mítica, passado e futuro, ou talvez «aqui e agora», na hora de uma nova demanda a caminho das terras lendárias de que fala Homero ou que narram os antigos escritos que vieram do Oriente...

Existem outras abordagens, que se recomenda aprofundar, que mexem com o 5 do pensamento (extremo-)oriental e, portanto, podem constituir outro paradigma, na senda de Lao-Tsé a Michio Kushi ou de Vivekananda a Gandi; quem quiser aprofundar etnocentricamente a raça branca tem forçosamente de ir ao judeu Freud e aos seus discípulos rebeldes, de Adler a Reich e ao jovem Jung. A sua influência é demasiado evidente no mundo positivista e racionalista moderno – dos filósofos franceses da falsa luz aos economistas do commonwealth anglo-saxão e aos especuladores da razão germânicos. Há quem prefira estudar antes a perspectiva do septanário e ver aí um bicho de sete cabeças, a pintar o caneco... Enfim, também não seguiremos aqui o fio do pensamento pessoano quanto à tipologia da arte de ser português, lusitano, lusíada ou luso…

In principio erat…

Yin e yang, o par que provém do Tao inominável (e inefável), abscôndito na sua quinta-essência. Homem e mulher os criou, os filhos da santíssima trindade da ideologia que nega a religação ao princípio único (absolum), onde Aristóteles um dia montou o seu motor quântico, catalizador de um pensamento mais antigo (vindo do Oriente) que remontava a Pitágoras e aos mistérios mistagógicos do divino Hipócrates, o pai renegado do paradigma científico ocidental. A praxis é teoria e experiência!

Se bem que aos filósofos pré-socráticos fossem revelados os elementos futuros do cerne focal das duas civilizações, foi Hipócrates, primeiro, e Galeno, depois, que os relacionaram com os humores e os temperamentos dos simples mortais consagrados a um estilo de vida, de saber e acção, que os deve manter puros e sagrados.

Tentar definir pessoas, grupos e/ou (inter-)relações é trabalho normativo das ciências sociais; aqui apenas se mostram modelos decalcados de um saber fragmentado (deste vosso humilde servidor) em que toma por ponto de partida o paradigma ocidental da quadripartição dos elementos ou princípios da ciência sagrada.

Numa interpretação analítica dos arquétipos elementares, as pessoas, indivíduos, sujeitos, objectos, cidadãos, etc., etc., possuem um grupo sanguíneo, a assinatura material da sua raça, digamos: pois não se dividem as etnias, pelo menos no Ocidente - reminiscência das quatro castas -, em raças vermelha, amarela, negra e branca? (O estudo da quinta raça leva-nos ao incentivo do início: o estudo do sufismo e da cabala hermética). Sem entrar em questões puramente fisiológicas, quatro serão também, contra poeta, os tipos de português que, consoante o grupo sanguíneo, tem propensão para um temperamento atrabiliar, fleumático, sanguíneo, e/ou colérico. Se entrássemos no labirinto da análise junguiana, encontraríamos a bússola da psique que reflecte, intui, sente (sentimento) e percepciona (sensação).

Os elementos da análise

A começar temos o elemento terra, a grande mãe e a matéria prima para a realização da obra, de alquimistas a místicos. Não nos estenderemos sobre os mistérios da deusa de Gimbutas e da sua história para, antes, nos determos na nossa concepção da divindade original – da serpente à Imaculada. Este mito lusitano é um dos selos que teremos que abrir para penetrar o livro aberto que é a epopeia – de Homero a Camões.

A lei das correspondências, das assinaturas de Paracelso (ainda recentemente presente na filosofia da medicina ocidental) diz-nos que o elemento terra, «forma», é o modelo de um temperamento possivelmente associado ao tipo de sangue mais antigo, o O (seria curioso fazer um estudo sobre a interpretação cabalística desta letra e a nossa peculiar Senhora do Leite, etc.), predisposto à digestão de matéria animal devido à capacidade do sistema secretor dos humores de Hipócrates.

Atégina é cultuada em várias partes do território, associada por vezes a sacrifícios, ao mistério ctónico dos abissos, mas também à conservação da saúde (medicina hipocrática), renascida e convertida mais tarde na imagem que actualmente se tem da Virgem. Por isso hoje a padroeira é a que concebe, no negro do útero, a luz dos seus olhos. Talvez reminiscências desse culto, não sei, o temperamento deste português – frio e seco, melancólico, esse que perde o familiar na carreira das Índias ou de outra hybris qualquer –, tal como Lucas, veste de preto o corvo vicentino –; como signo está ligado ao touro de Mitra e à Primavera que desponta, tal como do ventre de Atégina, os frutos a colher no jardim do Ocidente, esse império guardado pelo dragão do Graal... touro enfurecido que deu brado da Grécia ao extremo Ocidente.

Este tipo manifesta-se socialmente na correspondência de tendências para a prática de uma ou outra profissão como coleccionismo, comércio, jardinagem, agricultura (o chamamento da terra!), etc. A figura representativa seria Viriato, o pastor.

O segundo elemento que vamos analisar é a água; escorregadia e sinuosa, por excelência, como o foram as naus nas demandas de outras imaginações, a água é o símbolo do sacramento que Cronos estampou no promontório sagrado da nossa memória. Este tipo de português tem como tónica um temperamento húmido e frio, fleumático, mas com a visão joanina da águia que fita o Sol. Dado à navegação, foi ele que cruzou o oceano, contra ventos e marés, o moralista das missões por terras distantes, o padre que catequiza as «almas» e o artista da arte de marear.

A água é o elemento da vida, o mercúrio filosófico, da concepção ao mar tenebroso da consciência; sonhador por excelência, o nauta atravessa o vasto oceano do seu inconsciente à procura do cálice sagrado do Anjo, de Ulisses a D. Henrique, e os campos verdes da esperança de alcançar porto seguro, guiado por Vénus. Está relacionado com o tipo B. O seu espírito é representado por todos os grandes navegadores.

A seguir temos o ar, elemento volátil e inconstante; de temperamento sanguíneo (e/ou nervoso), este tipo de português, «quente e húmido», demandou os ares, qual Ícaro, na passarola de Gusmão ou na travessia do Atlântico. É o poeta, especulador da mente ancestral, o romancista da alma do povo, sábio e filósofo, na demanda da pedra dos sábios, revestido pelo seu manto azul dos selos joaninos e guardado pela águia de Júpiter. Está relacionado com o tipo sanguíneo A, o vegetariano nato. De entre os mais notáveis portugueses cujo signo pertence a este elemento, temos Pe. António Vieira, Camões e Gago Coutinho (Aquário); Fernando Pessoa (Gémeos); D. Dinis (Balança).

Finalmente o fogo, seco e quente, infunde o temperamento colérico de Marte e do leão de S. Marcos. É o guerreiro por excelência, do chefe Viriato ao condestável Nuno de Santa Maria, portador das lanças de ferro vermelho que afastam o estrangeiro do caminho da nossa independência. Irritável e fogoso, este tipo de português é o que incendeia a fogueira com que o metalúrgico-alquimista tempera os metais, de onde se vai extrair o ouro alquímico da união do quid nacional. Está relacionado com o tipo AB, o mais recente na história filogenética da humanidade. A sua figura representativa é D. Afonso Henriques e todos os valorosos guerreiros que empunham a espada flamejante...

O quaternário elementar

O ser humano não é apenas o enigma de Édipo (como demonstrou Malinowski com o mito ultramarino), mas também o animal das quatro patas aladas de Mercúrio, o protector dos Montes Hermínios – de Viriato ao Quinto Império –, a essência da personalidade e substância do eu (que é razão para os positivistas de todas as ideologias), da imaginação de Pessoa, do organismo físico (mecânico), da consciência responsável da águia dos montes da energia volitiva e do fluido vital que permeia a realidade – seja ela social, económica, política ou outra tipologia qualquer. Mercúrio é o mensageiro dos deuses, como o é o poeta-profeta, o que estabelece a ligação entre o negócio do século modernista do construtivismo social institucionalista da ideologia e a palavra perdida da inquietação dos valores normativos de uma anarquia à escala planetária…

A severidade do tempo dos corvos de Saturno, a calma parnasiana do senhor da águia, o onirismo aquático das radiações lunares dos banhos de Diana, a majestade do rei-Sol do Egipto no mito europeu, o vigor dos heróis, santos e poetas da terra de Hércules e a lassidão venusina do clima soprado pelos zéfiros de Europa ou do taurus encerrado em Minos e no inconsciente colectivo dos herdeiros do labirinto das lendas da Pérsia e do chá dos mestres zen, são sincronizados pelo arauto da mensagem e postos em movimento pelas profecias de Bandarra e pela oratória do diplomata da gaia ciência. A nossa história está escrita num livro que há-de vir de um futuro mítico – como foi a fundação da nossa hybris, que, apesar de flutuante, continua a seguir a rota traçada pela roda da boa ou má fortuna do tempo e dos tempos de Cronos. A ideia de fado é isso: uma face do monstro… A saudade é uma releitura do mito da moira grega pela percepção de um português, que intui Pascoaes, que se lança na procura da arte de ser ele mesmo.

Portugal é a confluência dos eixos civilizacionais e societais: Oriente/Ocidente e Norte/Sul, ainda que com um longo caminho a percorrer no campo da arte de governar (a tal cibernética da utopia…), na pedagogia da educação dos vindouros, bem como na retificação da política do desenrasca, ensino que pode ser ministrado a partir da cátedra-curul do talent de bien faire dos mestres do Templo, os dados estão lançados e a mensagem dos Montes Hermínios é clara: sem os escrúpulos do senhor da águia, a tudo se dedica superficialmente, pois a sua missão é circular e pacificar os modos do sisudo corvino, trazer a palavra à ordem do dia, serpenteante; e se, muitas vezes o discurso é engenhoso, a muitos falta a inventiva dos argonautas de outras lendas… Assim, a filosofia é prática, como a mística de outra qualquer contemplação, uma espécie de cabala que só alguns compreendem e que as elites julgam ter acesso…

Dividindo fisicamente o país, o ser português encontra-se presente nas terras ateginienses de além Tejo, que trouxe o corvo de Cronos e a tradição de Tubal para a cidade da luz; no centro do labirinto, alumiado pela coroa do santo Espírito, e profetizado pela águia que descobriu Teseu e o divino prior da columbina; na zona dos Montes Hermínios, onde o leão mostrou a raça de um povo que queria fora do seu jardim o intruso que vinha roubar o velo do mito encoberto pelo dragão… O português, esse espírito guardado, ab initio, pelo arcanjo – da Atlântida ao Quinto Império –, tem na nação lusíada o reflexo da história sagrada da humanidade, dividida por mitos e lendas, mas una na sua essência.

O quatro pitagórico e a caababel

O quatro é o paradigma ocidental para a matéria, manifestada através dos elementos (terra, água, ar e fogo) e das suas qualidades (frio, húmido, seco, quente), da qual se irá extrair a quinta-essência, a pedra filosofal. Elementos filosóficos, e não corpos (nem simples nem compostos), «mas tendências polarizantes, que dão origem às qualidades elementares».

Quatro são as estações, com suas fases lunares, e os pontos (e signos) cardeais, quatro temperamentos, qualidades, 4 animais de Ezequiel (águia, leão, touro, anjo) e o tetramorfo da esfinge do Egipto, como quatro é a reminiscência nos naipes das cartas de jogar modernas dos arcanos menores do tarô e o símbolo das etapas essenciais da realização humana; 4 é a palavra sagrada da cabala judaica, o nome secreto de Deus, inscrito no tetragrama.

Os hermetistas da Idade Média, como lembra Oswald Wirth (Le Tarot des Imagiers du Moyen Âge), representavam como figuras geradoras (de todas as outras) o círculo, o triângulo, o quadrado (estas três, fechadas, correspondiam a determinadas entidades, substâncias) e a cruz (transformadora de estado). Segundo os estudiosos (Barbara G. Walker, The Woman’s Dictionary Symbols and Sacred Objects), o símbolo de Hermes (Tote, Mercúrio, Hermes Trimegisto) era originalmente uma cruz, o número 4 sagrado do quádruplo deus, sendo a cruz cristã uma adaptação a partir daí, de Viriato a D. Henrique e de Cronos ao Quinto Império. Haveria ainda a fazer uma analogia com a suástica romana, o quadrifólio medieval, etc., mas isso distanciar-nos-ia do nosso propósito.

Quatro sentidos da escritura da teoria talmúdica: o sentido óbvio, a alusão, o sentido alegórico e o sentido místico da procura da essência através da leitura (da Tora) e de toda a hermenêutica da escrita sagrada. Quatro são também as verdades, nobres (do óctuplo caminho) do budismo, resumidas na técnica das quatro agulhas da terapêutica milenar chinesa, assim como ao nível da inteligência operativa são quatro as operações lógicas, do ábaco ao microprocessador.

S. Franclim, no seguimento da leitura de António Telmo sobre os ciclos da história secreta de Portugal, alude aos 4 Ciclos (dos Reis, dos Sacerdotes, do Povo, da Plebe [Massas]) anteriores ao surgimento do V Império. Os 4 temperamentos de Galeno, manifestação a nível psicofisiológico dos humores hipocráticos, vão originar os sete carateres planetários e os doze tipos de comportamento zodiacais (que não abordaremos aqui, assim como não analisaremos as nobres verdades do caminho a meio do sofrimento, cuja via pode levar à iluminação; nem tão-pouco falaremos dos filósofos que postularam uma ruptura epistemológica com a concepção de um quinto elemento, o éter, presente na tradição indiana, e talvez reminiscência de um saber que se perdeu com o nascimento da filosofia especulativa ocidental de Tales, no séc. VI a.C.).

Segundo a tradição astrológica as influências planetárias determinam as atitudes profissionais, que têm a sua aplicação segundo os temperamentos; assim, do chefe ardente dos montes de Hermes ao Ícaro-aviador pelos céus do empíreo, e do nauta de Argos ao lavrador, o povo português foi construindo o seu império, base de sustentação do templo predito pela parenética da história futura, e que pode ser resumido pela prece celta:

Muita paz para ti

Das ondas pacíficas do oceano

Muita paz para ti

Do ar subtil que te cerca

Muita paz para ti

Da calma profunda da terra

Muita paz para ti

Da radiação apolínea das estrelas

Paz profunda para ti

Do filho da paz.

2006-06-10

meandros da história pátria

Há uma história oculta, e ocultada de Portugal, afirmam os novos historiadores (de António Telmo a Lima de Freitas e a S. Franclim, todos vão «ler» à mesma fonte, Dalila Lello), e penso que ninguém duvidará disso. António Telmo, nos passos de Pessoa, postula que «houve entre nós, senão connosco, uma organização esotérica que, de uma maneira perfeitamente consciente e intencional, procurou através desta pátria, a que deu existência, redimir o mundo do mal e da divisão»; o que seja esta organização secreta, esotérica, não nos é dado revelar, sabendo-se contudo que Camões conhecia de cor a fabulosa história dos cavaleiros das albergarias medievais; foi bebê-la pois à lusa cidade de Atenas, por onde deambulou, tal como o já tinham feito o prior Teotónio, o doutor da igreja de Lisboa (santo em Pádua), e o taumaturgo que foi estudar a arte de curar para terras de S. Bernardo.

O estudo dessa história, portanto, revela-se da maior importância para a consciência nacional, já que como diz o sábio Leite de Vasconcelos «quanto mais intenso for o conhecimento da História, tanto mais firme será a consciência da nacionalidade»; no entanto, ela deve concordare cum originali, i.e., deve-se fazer o cotejo com o texto oficial para atestar a sua exactidão e não uma qualquer hipótese de trabalho empírico de escavação ou de metodologia científica. Porque do Cronos de Dalila, do Tubal de Vieira, do Encoberto de Bandarra, os sinais encontram-se onde o neófito os souber interpretar, na exegese fria da pedra rectificada pelo esquadro de Boitaca e o compasso da confraria operativa que ergueu os templos pelo reino da terra ignota dos alquimistas, que transmutaram a energia mística de Viriato na luz columbina do «divino», do templo dos cinco corvos vicentinos.

Sabe-se que Afonso Henriques, a quem S. Teotónio havia dado o batismo, e um outro Bernardo, o venerável bispo de Coimbra, estiveram na génese da, dada «por impulso divino», construção de um convento junto aos banhos reais da cidade, capital à altura dos Montes Hermínios e do mito de Ulisses; a pomba de que se fala na Bíblia era (e é) abundante na Lusa Atenas e sua luz irradiará mais longe quando o prior da Igreja de Santiago, Honório, o presbítero, é interceptado pela moirama, e o rei manda dar assento à pedra que irá ser a morada do mártir do promontório sagrado, o senhor de hugin e munin, ou talvez de um tempo já passado pelo fio da memória do futuro brilhante a que estava fadada a cidade da luz, boa e majestática, imperial, abençoada pela columbina de Teseu e pelo espírito divino de Teotónio. Branco e negro, trevas e luz, alfa e ómega do dilema do sujeito/objecto/sujeito e das ideologias. Por isso a capital tem (ainda) por cores o preto e branco do tabuleiro das justas medievais… Porque no tempo da fundação da nacionalidade Lisboa é Ulixbona, reminiscência de Ulisses velada pela cabala poética dos doze cavaleiros dos corvos, mensageiros da paz de Teseu na demanda da Agarta, do túmulo do Batista ou da pedra de Belém com seus símbolos falantes. A chamada luz europeia foi apenas uma blague dos tempos, um curto-circuito à mente da civilização tradicional, com a repercussão que ainda hoje sentimos em todos os domínios: social, tecnocrático e ideológico das elites que perderam o fio da história dos mitos que transmitem através da vox populi, a mensagem de Portugal e a sua história do futuro.

Por isso, é preciso estar alerta para o discurso académico e elitista, que se encarrega de «impor regras fixas, não importando se ilógicas, porque a história profana sempre foi o pálido reflexo da História Iniciática de Portugal, ou de qualquer outro país». (Excalibur, Revista de Esoterismo, nº3, Set-Out, 1984, p. 32).

Portugal nasce, assim, sob o signo da filosofia hermética. Os números 5 e 7 têm nas nossas armas uma presença e uma simbologia muito profundas; sete castelos, que significam, não unicamente as sete fortalezas históricas, mas também «representam os sete centros vitais da psicofisiologia indiana» (os sete chacras), os sete planetas-metais da tradição hermética, etc.; por seu lado, o 5 (das cinco quinas) representa as cinco chagas de Cristo da doutrina cristã, a quintessência do hermetismo e o Pentagrama cabalístico da filosofia pitagórica – o símbolo do Homem, incarnado metafórica e tradicionalmente no quinto arcano do tarô.

Numa das notas de António Telmo, a partir do horóscopo traçado por Pessoa, é chamada a atenção para uma mutação na orientação do país entre 1980 e 1990, que se realizou com a adesão à então CEE, hoje a modernizada União Europeia. Telmo recorre à gramática cabalística e desmascara o «eufemismo» da palavra adesão.

Independentemente da versatilidade arquetípica e intelectual que possa ter a marcação de um período histórico (quando não se conhece a doutrina indiana dos yugas), estamos na época de Kali, o que filtrado pelo crivo da alma lusitana (e ocidental) corresponde ao quarto ciclo, o último antes do advento do Encoberto (segundo outras lendas) ou da realização do sonho dos poetas-filósofos nacionais (a «quarta descida aos ‘Infernos’, onde António Telmo continua a traçar o perfil da dissolução moral e a chamar a atenção para o perigo do Estrangeiro, pois «a perda de independência vai-se sentindo aos poucos e vai tendo a sua expressão no social, como os casos de pedofilia que têm vindo a público demonstram»...

Quanto ao renascimento das cinzas da descensus ad inferos (ou Averni, se preferirem) do fado nacional (e do destino dos vários povos), Telmo responde que «há entre uma fase e a outra de renovação um hiato, um vazio que se faz, um nada que se faz, que é completamente tremendo. A partir daí é que pode surgir uma nova renovação. Não acredito que na continuidade do que está possa haver qualquer coisa de novo...», prosseguindo enigmaticamente a descrever o destino da nação lusíada, já que quando atingido o vazio se há-de seguir algo, pois «toda a transição tem um momento como se nada existisse». (História Secreta de Portugal).

Um outro ilustre historiador da nekia espiritual, Eduardo Amarante, afirma que «os testemunhos são claros: a verdadeira História de Portugal passa pelo conhecimento da sua tradição esotérica», que diz ter sido «legada pelos Templários» e mais tarde «propagada no Mundo pela Ordem de Cristo» (Portugal Simbólico), esse reino filho espiritual do abade de Claraval (Lima de Freitas, Porto do Graal), que um dia enviou ao Encoberto da Lusa Atenas o báculo esotérico do poder real, da autoridade, da dignidade e do poder mágico da peregrinação, um símbolo solar e axial na construção da futura nação lusíada e do continente de Europa. S. Teotónio foi o espírito subido que iluminou o caminho ao amigo, mesmo nos momentos mais difíceis da jornada, de Santarém a Ourique. Os templários foram os construtores de Portugal, cuja arquitectura ia sendo erguida pelas mentes dos doze levitas da crónica longa das cavalarias…Os templários representam o surgimento, mais tarde, da reflexão maquiavélica sobre o poder in terra e no mar da elite que detém os valores que a sociedade lhe exige como defesa da moral pública. É, portanto, um capítulo da história social e económica da Europa que retrata os cavaleiros que construíram as maravilhas da nação e teceram as lendas do rei que há-de vir um dia tomar posse do Império encoberto da mente de cada um/a e da alma nacional, colectiva.

Como bem nota Lima de Freitas, Nietzsche escreve (1876), numa releitura «super-humana», para além das ideologias, que «o que a história ensina é na realidade o contrário daquilo que o espírito histórico nela projecta, não uma progressão cada vez mais consciente do homem, mas o regresso ininterrupto das mesmas disposições que jamais se esgotaram ao longo das sucessivas gerações». (Porto do Graal, p. 89) Já a perspectiva evolucionista da história nacional vê no corpo a âncora dos males vindouros de falsas profecias, enovelada pelo mistério do espírito que agita as mentes (move montanhas) e os povos – uma reacção causa-efeito de um karma junguiano, inconsciente e passivo perante o desenrolar do fio de Ariana da Tradição lusíada. É uma perspectiva, portanto, que não traz nada de novo, para além de uma rudimentar noção psicossomática, reduzida ao fatalismo de um nobre cavaleiro encoberto pelas brumas de um qualquer bairro latino a velar (a carpir) o império desfeito pelo anátema da censura inquisitiva da mente estrangeira. A verdadeira história, essa aranha que tece as malhas do Império, é a lei do sigilo do Adepto apostado no renascimento da Fénix lusíada – transformada de Encoberto em Desejada, de Império de Talo (taurus) no mito do V Império.

História é lenda e mito, criada pelos Encobertos da mística nacional com seus símbolos e profecias. Aos historiadores actuais da academia falta-lhes o insight da mensagem de Ourique e/ou a cabala dos corvos de S. Vicente para poderem «resolver» o labirinto do mistério que envolve a alma lusa, o espírito do povo que, a partir do promontório sacro, irá levar essa mensagem encoberta aos confins do Império do santo Espírito numa nekia a que só os eleitos têm acesso. Sete efebos e sete donzelas, nem mais nem menos, é o grupo do qual irá fazer parte o herói do périplo labiríntico pelos mares da memória mítica do povo de Noé. Numa releitura simbólica de Tróia, Teseu é Ulisses, e é também Hércules, cultuado no promontorium sacrum da demanda da Jerusalém Celeste, da gesta de povo pacífico e fraternal à cata do Preste João de todas as Escrituras; o culto no centro sagrado da procura interminável da paz. O labirinto é o país, sem rei nem roque, à deriva pelas marés da Europa raptada à sua pureza original de força telúrica, e vendida à ideologia estrangeira, que desconhece a verdadeira história (malhas que o império tece) do povo que foi eleito para prosseguir o processo civilizacional começado pelos helénicos, mas que já vinha do Egipto e mais além.

Rainer Daehnhardt diz, e diz bem, que «não existe povo mais bem preparado do que o povo português para encontrar soluções para a convivência pacífica de homens de raças, cores, credos e origens diferentes». (Portugal Cristianíssimo. Corroios: Zéfiro, 2005. ISBN 972-8958-01-3, p. 51). Ora o convívio gera comunicação e comunhão e, analogamente aos marinheiros que «já» sabiam árabe quando visitaram o reino do Preste João, também hoje é necessário voltar a falar a língua das aves dos escudos da pátria lusitana, essa língua que irá ser, a nível internacional, a gaia ciência do vate encoberto – para mais uma vez o povo lusíada se libertar do jugo estrangeiro e alcançar a Paz profetizada pelo Arcanjo. Aliás, a temática da paz é querida entre os portugueses, pois como conta Barbosa Machado (Bibliotheca Lusitana), no séc. XV houve um frade português (conhecido por Amadeu, João de Menezes da Silva) que fundou em Itália o «Convento da Paz», o primeiro de muitos da Congregação dos Amadeus. Portugal geograficamente divide-se entre Norte/Sul e Litoral/Interior, onde giram as elites e as marcas nos brasões das terras históricas por onde passaram os cavaleiros das albergarias e os peregrinos que erram pelo labirinto da riqueza material e do bem-estar social do marketing ideológico.

Luta a travar na Grande Guerra Santa contra o século de qualquer ideologia, «a paz é um dos principais sinais da vinda do Messias», segundo a profecia da parenética vieirina (Obras Escolhidas, IX, p. 198), enquanto para Sampaio Bruno o último tempo, o Quinto Império, é o reino em que «em todo o mundo a paz será» (O Encoberto).

Ora, paz, é precisamente um dos quatro pilares (PAX, LVX, REX, LEX) da mansão filosófica, o templo afonsino – a nação lusíada –, elementos da grande obra de onde irá ser extraída a quinta-essência dos Impérios. Tal como refere Manuel Gandra, ao observar a concordância apocalíptica do nosso destino, o futuro «traz a Portugal a sagração pela PAX a qual, numa acepção plena, é um dos atributos fundamentais dos centros espirituais estabelecidos no mundo (in terra)». (Dicionário do Milénio Lusíada, I). E mais à frente, ao falar dos atributos do rei-sacerdote Melquisedeque, foca a passagem simbólica dessas qualidades para o nosso arcanjo padroeiro, S. Miguel, portador da balança da justiça (que aplica a lei) e da espada, que tanto tira como dá a vida.

Numa mensagem que ainda pouca gente percebeu (iludida que anda pelo marketing das elites simbólicas do pós-modernismo das ideologias), Coimbra é precisamente a cidade-símbolo da paz: a pomba columbina do Santo Espírito, de onde irá irradiar a «energia positiva» (como outrora levou as relíquias do mártir, do promontório à cidade da luz), oclusa durante séculos, até aos confins da aldeia global, e mais além, nesta nova demanda do império espiritual, tal como escrito na capela joanina: EMITTE LVCEM TVAM ET VERITATEM TVAM. Luz, verdade; paz, lei, no reino prometido pelos nossos egrégios antepassados, de Cronos ao Encoberto, pois como proclama o fatícano Vieira, o nosso mito será (re)escrito pela civilização na história do futuro. Exaltar o mito, assim, deve ser a nossa mensagem – no aqui e agora do «é a hora!» de afastar o nevoeiro…

2006-05-30

aki & agora - pelo labirinto do V Império (ver. simbolika)



- a encruzilhada kaleidoskopika -

EMITTE LVCEM TVAM ET VERITATEM TVAM

Inscrição


1. O labirinto da mente contemporânea: a tecnologika de Urânia.


Lérias e peixe de lotas ainda não percorridas pelos

cibernautas da chaTICE.



2. O labirinto da mente moderna: a entrada cartesiana do

branco no preto das catedrais gotikas.



A mecanistika de Newton é a realidade que precisa da
teleskopika do Galileo para construir os românticos labirintos das cortes imperais



3. O labirinto da mente antiga: circular o marfim

pelos meandros de Kreta ou na musivaria do oppidum conimbrigensis

Pitágoras é o arkiteto do V Império na rota

do taró que Viriato cumpriu com kara.ter


A konstante: a guerra . desumanidade vs amor . pax




4. O labirinto da mente primeva: gravar na rocha

as entranhas da mãe-terra em cultos da serpente

espiralika dos avatares lusitanos





Omnipresente: o labirinto internautiko das memórias
e fados e moiras encantadas e abandonadas pelas
Hélades do Minotauro -- de ulisses ao desejado o
labirinto vai-se cumprindo aki e agora
assente nos pilares mátrios
PAX.LVX.LEX.gREX